Elaborado por Gilberto Peverari
em 08/02/2022
Vamos discorrer, neste artigo, sobre o método que norteia nossos workshops.
A Aprendizagem Vivencial é uma metodologia ativa, oriunda do Ciclo de Aprendizagem de Kolb, que apresenta o processo de aprendizagem como uma integração da experiência com o aprendizado, a partir de uma sequência de etapas, desde a execução de uma atividade, passando por uma análise crítica dessa experiência até extrair o seu significado e desenvolver habilidades ou rever comportamentos.
Nas palavras do próprio autor, David Kolb, “Aprendizagem é o processo pelo qual o conhecimento é criado através da transformação da experiência”.
Por priorizar a prática do tema a ser abordado, ela pode ser aplicada em qualquer faixa etária ou nível de conhecimento, individualmente ou em grupo, apresentando melhores resultados do que em processos tradicionais de ensino, preponderantemente expositivos, motivo pelo qual é amplamente aplicada na educação corporativa, consolidando as habilidades e gerando ganhos, inclusive na vida pessoal dos participantes. Ah! E pode ser trabalhada tanto presencial quanto remotamente.
Vale – e muito! – ressaltar que todas as dinâmicas, atividades e discussões devem estar relacionadas, direta ou indiretamente, ao tema a ser desenvolvido. Já participei de encontros em que as atividades eram bastante lúdicas, longas e sem qualquer conexão com o assunto no qual precisávamos nos aprofundar, levando uns e outros a cochicharem entre si: “o que é que eu estou fazendo aqui, com tanta coisa que tenho pra fazer? Eu podia estar trabalhando”. Ou seja, o evento fazia parte do trabalho, mas a atividade estava completamente descaracterizada. Talvez você já tenha passado por isso, também.
Então, tendo isso em mente, vamos explicar o passo a passo da metodologia.
ETAPAS DO CICLO DE APRENDIZAGEM VIVENCIAL
O Ciclo de Aprendizagem Vivencial, elaborado por Kolb, é composto por quatro etapas:
Como todo tesouro, a Aprendizagem Vivencial também tem sua ARCA…
Hora da experimentação de algo novo, da vivência de uma possível situação de trabalho, da ação a partir de um estímulo.
A primeira etapa da metodologia é aquela em que o aprendiz vai agir, executando uma atividade conectada com o tema, com a finalidade de aprender sobre ele. É o momento de “sentir na pele” a questão proposta.
Na descrição original, esta etapa é chamada Experiência Concreta, uma vez que o problema está à sua frente e tem de ser resolvido.
Você pode estar se perguntando: “mas, se o objetivo é aprender algo, como eu vou conseguir fazer a atividade da maneira correta?”.
Assim como lida com os desafios diários: vai lá e faz, ou da maneira que você está acostumado ou, se for a primeira vez que se depara com algo assim, apela para sua memória, tentando juntar todo o conhecimento e habilidades que tenha para resolver a questão da melhor maneira possível, no tempo que tiver disponível, claro.
Considere isso: você já ouviu várias teorias e orientações sobre o que fazer ou como se comportar diante de situações inusitadas como um assalto, um princípio de incêndio ou um engasgo, porém, como será que sua memória vai se comportar quando você aumentar a adrenalina em seu sangue e reduzir o tempo que terá para agir? Só uma simulação da situação lhe permitirá avaliar qual será sua resposta automática. É aí que você vai constatar se tem algo a melhorar.
A atividade pode ser proposta a partir de uma pergunta, uma ideia, uma música, uma imagem, um vídeo, uma simulação relacionada à atividade profissional ou qualquer outro artifício que o faça acessar suas lembranças, conceitos e considerações.
Em uma dinâmica de grupo, esse conhecimento é compartilhado durante a atividade, de forma que os conhecimentos e habilidades se somem para que todos tenham uma visão mais completa, que lhes possibilite descobrir como solucionar o problema, e ponham mãos à obra.
Esta etapa é constituída de dois processos, intimamente relacionados: o relato das observações feitas durante a etapa anterior e seu processamento.
Kolb denominou essa etapa de Observação Reflexiva, em que cada participante reflete e analisa como se sentiu e se comportou durante a vivência, bem como avalia o que a experiência em grupo proporcionou.
Primeiramente, os participantes compartilham fatos e, principalmente, sentimentos e emoções que considerem interessantes, observados durante a execução da atividade proposta. Tais comentários podem versar sobre desafios, percepções ou o clima em que a atividade se desenvolveu, por exemplo.
Para estimular a participação, podem ser usados registros de produtividade do grupo, algumas considerações do trabalho nos subgrupos, questões sobre as interações ou dificuldades encontradas.
Em seguida, todo esse material coletado durante os relatos é analisado em conjunto com os participantes, sendo evidenciados os principais obstáculos ou pontos que requeiram atenção, relativamente ao assunto em análise.
Essa é a etapa mais crítica, porque é ela que permitirá a análise e a compreensão do que foi vivido, percebendo seus padrões de comportamento e os resultados das interações no grupo, avaliando se – e com que qualidade – o objetivo foi alcançado, os motivos de resultados insatisfatórios e, principalmente, o que seria mudado caso se deparassem, novamente, com a mesma questão e os motivos desses ajustes.
Não se trata de identificar culpados ou atribuir responsabilidades, mas entender e aprender com o que aconteceu.
Entramos na etapa cunhada por David Kolb como Conceituação Abstrata, por ser aquela que dá origem a uma nova ideia ou uma modificação de um conceito abstrato existente.
Essa modificação ou ampliação é causada pela experiência em novas condições, em um ambiente orientado para a observação, a reflexão e a ampliação das percepções a respeito do tema.
É o momento, então, de transformar a experiência vivida em conhecimento, em desenvolvimento pessoal.
Um conhecimento que não ficará restrito ao estudo de caso realizado, mas a toda gama de situações que tenham alguma conexão com os sentimentos, emoções, habilidades e atitudes despertados durante a vivência e que tenham a ver com a realidade do participante.
A pergunta-chave a ser trabalhada é: como a aprendizagem vivenciada pode ser aplicada no dia a dia?
Aproveitando-se as discussões e reflexões individuais e em grupo, podem-se introduzir conceitos que auxiliarão na consolidação desse novo hábito.
Finalmente, é hora do comprometimento e do planejamento de aplicação do que foi aprendido durante o evento em suas atividades diárias, assumindo novas atitudes e comportamentos.
Para isso, é importante reconhecer o que foi desenvolvido durante todo o ciclo, aproveitando toda a base de conhecimento utilizada no evento, que passa a fazer parte da sua própria bagagem.
Kolb chamou esta etapa de Experimentação Ativa, pois se relaciona com a disposição do participante em aplicar os novos conceitos, as novas formas de executar as atividades ou as novas abordagens na resolução de problemas semelhantes ao trabalhado no evento.
O ideal é que se estabeleça um plano de ação para que essa aprendizagem seja exercitada em todas as próximas oportunidades que surgirem e que se firme um compromisso consigo mesmo de aprimorá-la o quanto possível.
Considerando-se o ambiente organizacional, vale, sempre, a troca de experiências com os demais colegas, uma vez que os responsáveis por passos anteriores ou posteriores poderão avaliar a necessidade de ajustes e melhorias em suas próprias atividades.
CONCLUSÃO
Como você pôde ver, é um processo que, apesar de seguir uma linha de base bem definida, tem várias aberturas para a imaginação, a discussão e a ilação.
Mas, além de tudo isso, ele possui um tempo finito e um objetivo a ser atingido, para que todo o esforço e o investimento valham a pena.
Recomenda-se, assim, que a facilitação do evento seja conduzida por um profissional qualificado. Não somente em termos de controlar o tempo, mas de aproveitar as boas sacadas e conclusões surgidas ali.
Como o desenvolvimento se inicia com a experimentação dos conhecimentos e habilidades que o participante já tem, fazendo-o refletir sobre os motivos pelos quais assumiu esses hábitos e sobre possíveis ajustes ou acréscimos que pode fazer para que suas ações sejam mais efetivas, tem maior probabilidade de se fixar.
Finalmente, depois de assimilar essa metodologia, não há motivo para que essa estratégia de aprendizagem não seja sistematicamente aplicada.
REFERÊNCIA
KOLB, D. A. (2014). Experiential Learning: Experience as the Source of Learning and Development. New Jersey: FT Press.